sexta-feira, 8 de março de 2013

Dos cães que morrem em mim


Hoje vi um cãozinho morrer atropelado. Quase fiquei triste. Lembrei-me de uma cena muito parecida que vi há  uns 10 anos atrás, quando realmente me emocionei.
Penso que talvez a diferença de reação minha se deva ao fato de o cão de hoje ter morrido na hora, enquanto o de dez anos atrás gritou e agonizou por minutos.

Mais uma vez me remeto à  idéia de que todas as coisas são espelhos, que refletem quem nós somos.

É  como se todos os dias morressem cães dentro de mim, mas hoje eles agonizam menos. Morrem de uma só vez, sem aquela gritaria que tanto doía. Morrem em paz. Ainda que seus cadáveres sejam coisas feias de se ver, apresentam apenas alguns espamos post-mortem como resistência ao fim.

E o tão temido fim é só uma mudança, que dói quanto mais gritamos e agonizamos.

Mas que fique claro: estarei mentindo se disser que não há mais cães agonizantes em mim. Mas tenho esperanças que um dia eles morram em paz, seguindo o sábio exemplo daquele que se foi hoje à tarde, sob as rodas de um carro numa rua de meu bairro.