quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O Brasil em chamas e as (possíveis) Zonas Autônomas Temporárias


Manifestação de 07 de setembro de 2013, São Paulo

Tenho visto comentários on e offline sobre o aumento do tal "vandalismo" a falta de diretrizes nas manifestações, a falta de coerência (seja lá o que signifique isso) de manifestantes e praticantes Black Blocs.
Pessoas, em meio a essa situação, que obviamente foge às suas compreensões (e à minha também) se perguntam "onde está aquele espírito de união, aquele clima de mudança que vimos tomar as ruas em junho de 2013?"

Pois, além de achar cômico esse saudosismo precoce, eu vou dizer a minha opinião:

Eu estive lá, nas ruas, em junho. Estive lá um dia depois do ato que emocionou tanta gente, que mudou o discurso dos apresentadores de TV, que colocou a palavra "manifestação" no vocabulário do Sérgio Chapelin...
E tudo o que eu vi foi uma festa medíocre pintada de verde e amarelo, com pessoas que diziam querer mudanças, mas que ostentavam os símbolos da velha ordem que tanto massacrou e massacra o povo.
Tudo o que vi foi mais uma balada de rua na Av. Paulista, dessa vez no meio da semana e não na sexta. Vi uma multidão que gritava contra o aumento da tarifa, baixar seus cartazes para entrar na fila da catraca do metrô.
Vi uma mera procissão, um ato sem ideologia nem radicalidade.
Isso tudo sem contar na grande sabotagem da CPTM, que deixou milhares de pessoas da Zona Sul sem transporte, tendo que caminhar dezenas de quilômetros até a casa ou mesmo passar a noite na rua.

E gente vem falar que falta continuidade nas mobilizações... Continuidade no quê?


Protesto em resposta à morte de jovem Zona Norte
A continuidade que precisamos já temos, é a nossa capacidade de sobreviver em meio à repressão policial diária, com a escassez de meios de subsistência, com a negligência do SUS, estudando em escolas que mais parecem prisões tanto fisicamente quanto no trato com @s alun@s...
As ruas estão sendo novamente tomadas de forma mais radical, as cidades estão mais uma vez parando. Se as manifestações são passageiras, isso é o que menos importa.
Talvez o que temos que mudar sejam principalmente os nossos paradigmas de movimentos sociais. Se já não acreditamos no "felizes para sempre" dos contos de fadas nas nossas vidas pessoais, porque ainda se acredita nisso quando se trata de política?
Uma mudança quando é duradoura deixa de ser mudança, certo?
O que acredito atualmente é que precisamos nos reinventar sempre, e de certa forma é isso o que está ocorrendo nas ruas e que está sendo desvalorizado pelas mentes conservadoras (da direita e da esquerda), sendo classificado como movimentações "sem futuro".
Talvez fosse isso o que o Hakim Bey chamava de Zonas Autônomas Temporárias.


Ato contra Instituto Royal (outubro 2013)
Parafraseandoo manifesto Negativo:
"Acreditamos no potencial criativo da negação e evocamos o caos, o indefinido, o desconhecido e o inusitado para tocar a música a qual dançarão as profundas transformações necessárias a cada pessoa."