segunda-feira, 20 de maio de 2013

Não é assim que a guerra vai acabar (Do holocausto contemporâneo)

Aos defensores da moral do "cidadão decente", partidários da redução da maioridade penal, do encarceramento em massa, e do holocausto generalizado que ocorre nas periferias e nas cadeias do Brasil (e do mundo), recomendo uma revisão de seus argumentos. Pois quem forma sua opinião a partir do Datena, da revista Veja, da Rede Globo ou dos demais oradores do ódio e da violência institucionalizada infelizmente está chamando de realidade o mesmo universo onde Veras Fischers, Reinaldos Gianecchinis, Giseles Bünchens, Leonardos Dicaprios e similares vivem infinitas aventuras, amores e desamores e terminam felizes para sempre. 

O mundo onde a polícia e as cadeias reduzem a violência é o mesmo mundo onde James Bond enfrenta o mal a bordo do bondinho do Pão de Açúcar, o mesmo mundo onde personagens viajam entre as favelas do Rio e a Turquia como quem vai à feira comprar pastel, o mesmo mundo onde o vilão (ou a vilã) sempre termina louco vagando pelas ruas sem rumo ou acaba morto por alguma pessoa "sem nada a perder" querendo vingança. Recomendo que quem acredita que vive nesse mundo - e consequentemente acredita que todos os assaltantes saem na rua para matar o primeiro que der vontade - conheça um pouco mais da realidade onde estão inseridas a maioria das pessoas que cometem crimes como assaltos, tráfico de entorpecentes ou latrocínio. Recomendo que conversem com familiares de pessoas presas, ex-presidiários ou adolescentes que cumprem (ou cumpriram) medidas socioeducativas. Acredito que, no mínimo, tomarão conhecimento de um lado da história que não é contado nos jornais, nos filmes, nas novelas, nem nos rádios e que a polícia, "defensora da sociedade" faz questão de esconder. 

Não é na TV, no cinema ou nas faculdades que se aprende sobre o mundo. É nas ruas, estando de olhos e ouvidos atentos, conhecendo as violências e as contradições que fazem parte do dia-a-dia da maioria da população (isso inclui a mim e, provavelmente, você) é que se pode entender, pelo menos um pouco, as causas de efeitos como a tal Criminalidade. 

E, falando de adolescência, foi nas ruas que os meninos e meninas aprenderam que não vivem no mundo do faz-de-conta da Cinderela ou do Batman, e que o crime na verdade compensa, pois é a única alternativa que viram para tomar para si a estima e a dignidade que lhes foi roubada antes mesmo de nascerem.

E que fique claro: se neste instante não estou cometendo um crime, recebendo uma sentença, nem sendo amaldiçoado pelas "pessoas de bem" por ser um "Bandido" (termo um tanto ultrapassado e fantasioso, na minha opinião), mas estou aqui escrevendo é por mero acaso, sorte ou truque do destino, pois estou inserido na mesma realidade em que o crime organizado é o partido com maior popularidade e a cadeia é a faculdade mais acessível ao povo. 

Cada vez mais, vejo a verdadeira crueldade, não quando vejo um crime, nem quando um "criminoso" fala, mas quando uma pessoa "Normal" manifesta sua sede de sangue e de sofrimento alheio, dizendo coisas como "tem que apodrecer na cadeia" ou "bandido bom é bandido morto". 

Parafraseando o Facção, "Não é assim que a guerra vai acabar".

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